No último artigo sobre a Era Eduardiana, falamos um pouco sobre os corsets da época e como as cinturas finíssimas das fotos eram obtidas através da combinação de dois recursos: enchimento nos lugares corretos e muita manipulação nos negativos das fotos. Nesse artigo, vamos explorar a lingerie eduardiana e desvendar os truques que as damas da época tinham à sua disposição para alcançar a silhueta ideal.
A Era Eduardiana é o período que a lingerie feminina que consolida como algo sexy. Se durante a Era Vitoriana a roupa íntima cumpria um papel puramente funcional, com decorações mínimas, na Era Eduardiana ela será quase transformada em uma obra de arte, com rendas intrincadas, babados e laços que enfatizavam a feminilidade. Embora linho ainda fosse usado, e a seda fosse bastante valorizada para peças que seriam usadas no dia do casamento ou em eventos importantes, o algodão parece ter sido o material de preferência, junto com bordados ingleses, tules bordados, rendas de algodão e fitas, muitas fitas. Muitas peças usadas desde a Era Vitoriana, como as calçolas abertas no entrepernas e chemises, continuaram em uso, sendo apenas mais valorizadas pela decoração e sofisticação dos materiais.
Uma das coisas que eu mais gosto sobre a lingerie eduardiana é que, apesar de todas as decorações elaboradas, era muito fácil de comprar as peças. Chemises, anáguas e até as calçolas eram anunciadas em catálogos especializados e podiam ser enviadas pelo correio em tamanhos variados. Aqui no Brasil se publicavam anúncios das “peças de senhora” nos jornais das grandes cidades. Isso só era possível porque a produção industrial de rendas e bordados tinha derrubado o preço desses materiais e criado versões populares de coisas que no século 19 só estavam disponíveis para a elite. Claro que as famílias não deixaram de produzir suas próprias roupas e bordados; lençóis e toalhas de mesa brancos eram frequentemente reutilizados para roupa íntima, assim como lenços velhos. Mas você poderia perfeitamente ser uma moça trabalhando como secretária em uma grande cidade e encomendar sua lingerie de um catálogo, com a maior praticidade e discrição:
Agora, vamos descobrir exatamente o que você usaria na época!
Calçolas
As calçolas (ou drawers) da Era Eduardiana se tornaram mais curtas: as vitorianas iam quase até o tornozelo, enquanto que as eduardianas dificilmente passavam do joelho. Além disso, elas ganharam decorações muito ricas e delicadas em renda, tules e tecidos bordados. Da Era Vitoriana elas preservaram a abertura no entrepernas, indispensável quando usadas com corsets.
Havia dois modelos básicos de calçolas na Era Eduardiana. As de pernas retas, preferidas por grande parte das mulheres pela sua praticidade e uso econômico de tecido:
E as calçolas circulares, cortadas em diagonal:
Combinações
Um dos grandes sucessos da lingerie eduardiana foram as combinações, uma peça única que combinava chemise e calçolas e eliminava o volume na cintura que poderia ser causado pelo uso dessas duas peças separadas. Abertas no entrepernas como as calçolas, as combinações podiam ter alças ou mangas curtas e variavam desde modelos simples até os mais decorados:
Corset
O corset típico da Era Eduardiana é bem diferente dos corsets vitorianos em vários aspectos. Aqui não vamos falar da modelagem especificamente, porque é algo muito técnico, mas das diferenças gerais.
O corset eduardiano não comprimia ou elevava o busto. Ele apenas dá suporte aos seios na sua posição natural, pegando os gêmeos abaixo do mamilo:
A diferença que existe entre o tamanho do busto e o tamanho do corset não é porque o corset está grande. Tanto no busto quanto no quadril o corset tinha espaço para fossem colocados enchimentos, que ajudavam a criar a “Silhueta-S” do período. Então não, o corset eduardiano não forçava as costas e o busto das mulheres em uma posição absolutamente desumana!
Uma coisa que os corsets eduardianos tinham de novidade em relação aos vitorianos eram as ligas de meia já incorporadas ao corset. Como na Era Vitoriana as calçolas eram mais longas, as meias eram fixadas à perna com ligas amarradas em torno da coxa. Como a lingerie eduardiana trazia calçolas mais curtas, era possível incluir as ligas no próprio corset:
Corset-cover
Corset-cover é uma peça usada em cima do corset desde a Era Vitoriana, que ajudava a disfarçar as linhas da barbatana do corset, que poderiam marcar na roupa; também ajudava a proteger a roupa do atrito contra o corset. Se na Era Vitoriana a corset-cover era mais justinha, na Era Eduardiana ela fica mais solta e começa a perder as mangas e ganhar muitas decorações fofas:
Para ajudar a criar um certo volume extra no busto, algumas corset-cover recebiam camadas de babado em posições estratégicas:
Anáguas
Como as saias eduardianas tendem a abrir a partir do joelho, as anáguas do período só têm babados na mesma altura e são de 10 a 15cm mais curtas do que as saias. A maioria das anáguas era feita de algodão, mas seda também era bastante usada, especialmente para ocasiões formais (casamento, bailes, apresentação à Corte, etc). Estas anáguas de algodão eram sempre engomadas, o que aumentava sua firmeza e capacidade de dar suporte correto às saias.
Mulheres ricas costumavam usar dois tipos de anáguas: as de algodão para dar suporte à saia e uma de seda, que poderia ser estampada, feita para aparecer de leve quando a barra do vestido era levantada ao caminhar. Aquela história de que não se podia mostrar os tornozelos sob hipótese alguma é mais uma brincadeira e um mito do que algo aplicável na realidade.
Anágua Princesa
Como a moda do período focava muito na cintura diminuta através de ilusões de óptica (volumes no busto e na saia ajudam muito a afinar a cintura!), as várias camadas da lingerie eduardiana poderiam ser um problema, já que criariam volumes indesejados na cintura. A saída foi a anágua princesa, que combinava corset-cover e anágua em uma única peça, ajustada à cintura através de pences e recortes:
Meias
As meias eduardianas merecem um tópico só para elas, pois todo o lance de “lingerie eduardiana sexy” elevou as meias a uma peça que recebia tanta atenção quanto o resto da lingerie – e muito mais do que nós damos hoje em dia. Aliás, sendo bem sincera, as meias vitorianas, especialmente francesas, foram um espetáculo durante toda a segunda metade do século 19!
As meias não eram só brancas, em cores claras e lisinhas. Elas eram coloridas, bordadas e estampadas, um verdadeiro espetáculo para os olhos!
A Isabella Pritcher da loja Prior Attire tem um vídeo excelente demonstrando como todas essas camadas funcionam juntas em um vestido de visitas de 1903. Note que ela não usa uma anágua princesa e que, como ela já tem um busto volumoso, não precisa dos babadinhos na corset-cover: