A uns 40 minutos de carro de Florianópolis, fica a cidade de Santo Amaro da Imperatriz, um município pequeno e muito acolhedor, com paisagens de tirar o fôlego. A história da cidade começa em 1813, quando um grupo de caçadores descobriu as águas termais da região. Em 1818, Dom João VI ordenou a construção de um hospital termal na região, o primeiro do Brasil; Portugal já tinha uma longa tradição e conhecimento dos benefícios das águas termais para a saúde, afinal um das estações termais mais famosas do Velho Mundo fica lá, na cidade de Caldas da Rainha.
Mas não paramos por aí: em 1845, ninguém menos que D. Pedro II e D. Teresa Cristina ficaram hospedados por lá, durante sua visita oficial a Santa Catarina. Hoje o antigo hospital é o Hotel Caldas da Imperatriz, que preserva não só o prédio, mas também o quarto onde os Imperadores ficaram e até as banheiras da época da visita!
Como parte da comemoração do bicentenário do hospital, a prefeitura, que administra o hotel, organizou uma série de eventos, inclusive um intercâmbio de autoridades e artistas de Caldas da Rainha (que é considerada cidade-irmã de Santo Amaro). Foram várias atividades que promoveram a história e a cultura e aproximaram os dois municípios. Uma dessas atividades foi o Jantar Imperial no salão do hotel onde os Imperadores se hospedaram em 1845 e nós da Sociedade Histórica Destherrense, que estamos desde 2015 resgatando os registros da visita imperial, fomos os anfitriões do jantar, como membros da Corte Imperial.
Eu sou completamente apaixonada por esse lugar. Nos fundos do prédio principal fica um deque de madeira que se debruça sobre o rio e você pode ficar lá sentado ouvindo o murmúrio das águas e rodeado por passarinhos. Nas árvores próximas ao deque há casinhas de madeira onde podemos colocar comida e atrair os pássaros. Como é área de Mata Atlântica, se você der sorte poderá ver um quati escalando as árvores enquanto toma café colonial no restaurante do hotel.
E a história do lugar é um capítulo à parte. Quando passamos da recepção, a porta se abre para um corredor imenso, e nas laterais deles temos os quartos. É impossível caminhar por ali sem pensar que estamos pisando o mesmo chão que os Imperadores em 1845.
Nesse corredor temos o quarto onde os Imperadores estiveram hospedados. E, embora a mobília não seja original de 1845 (ela é do século 19, mas bem posterior), os móveis são de tirar o fôlego e ainda entalhados à mão. Dá pra reservar esse quarto? Sim! E claro que nós aproveitamos para fazer algumas fotos por lá, rsrsrsrs
Gente, olha essa cama:
E esse roupeiro com espelho:
E essa penteadeira, minha Nossa Senhora das Antiguidades:
Quero tudo!
As banheiras entalhadas em pedra, ainda da época da visita imperial, ficam no andar de baixo. O acesso original é através de uma escada, mas hoje o hotel já tem adaptação para pessoas com restrições de movimento. As banheiras são individuais e ficam em “quartinhos”, o que garante sua privacidade. Lá embaixo ainda se preservam os ladrilhos do século 19 e descer a escada é quase como uma viagem no tempo mesmo.
A propósito, existe uma lenda rondando este hotel: a Princesa Isabel teria sido gerada aqui. E as contas batem: a visita foi em novembro e a Princesa Isabel nasceu em 29 de julho do ano seguinte.
Esse é o tipo de evento que me deixa muito feliz. Faz três anos que me dedico a descobrir a história de Santa Catarina durante o Segundo Reinado e poder levar uma parte disso, ainda que muito pequena, para as pessoas é sempre gratificante. Ainda mais em um local cuja história é impossível de separar das figuras de D. Pedro II e D. Teresa Cristina. Ainda quero retornar ao Caldas da Imperatriz num dia sem evento, para poder fazer algumas fotos mais detalhadas, quem sabe até com um traje de banho vitoriano.
E os figurinos?
Estávamos em família no dia. Papys no topo da escada, fazendo as vezes de Comandante da Esquadra Imperial, com o uniforme que minha mãe fez pra ele, incluindo essas dragonas baphônicas:
Mamys com o traje da D. Joaquina. A foto é de outro evento e com uma crinolina chinesa antiga, então considerem que a silhueta dela nesse evento do Caldas da Imperatriz estava bem mais correta do ponto de vista histórico:
E temos o maridão Zambi com um fraque alugado, porque eu ainda não criei vergonha na cara não fiz uma casaca vitoriana decente pra ele:
E, por ser um evento interno, eu consegui usar o vestido de baile 1850 com a cauda de tafetá que fiz ano passado e só foi sair do armário agora em 2018:
Mais sobre o hotel
Até hoje o Caldas da Imperatriz é muito procurado para tratamento de doenças como reumatismo e tem um programa especial de tratamento que dura cerca de 20 dias. As propriedades terapêuticas das águas de lá já foram extensamente pesquisadas e documentadas desde o século 19 e são comprovadas por estudos científicos modernos. Mas é possível visitar o local mesmo sem prescrição médica. O hotel tem um pacote day use bem legal, que eu recomendo muito e aconselho deixar a dieta em casa, porque inclui um café colonial que ignora qualquer conceito de vida fitness.
O prédio à direita é a construção original, tombada como patrimônio histórico, e à esquerda temos as instalações modernas.
Visite o site do hotel e confira mais informações
Uma resposta
Fiquei apaixonada pelos móveis do quarto, um detalhe mais legal do que o outro. Quem dera se hoje em dia a gente ainda achasse móveis com essa qualidade né? Achei tudo muito legal 🙂