Desde a icônica cena de orgia gastronômica do filme “Maria Antonieta” (2006), os cupcakes definitivamente se tornaram os queridinhos da confeitaria
Os doces apresentados na cena são visivelmente modernos e a cenografia desse momento, de forma geral, desde a música até as cores, faz uma referência mais ao movimento new romantic dos anos 1980 do que aos anos 1780, propriamente ditos.
Enquanto bolos em porções individuais não são uma invenção tão moderna assim, o cupcake como nós o conhecemos só vai começar a surgir depois da Primeira Guerra Mundial, quando a primeira marca de cupcakes industrializados aparece nos Estados Unidos (“Hostess”, 1919), assim como as primeiras forminhas de papel decorado. Embora assar bolos em formas cobertas com papel já fosse uma técnica empregada na confeitaria do século XIX, esse papel era retirado antes de levar-se o bolo à mesa e definitivamente não servia como decoração! Entre 1919 e 1947, o bolinho foi ganhando os ares da atualidade, com a introdução da famosa voltinha e das coberturas clássicas de creme de manteiga (“buttercream”), queijo cremoso (“cream cheese”) e chocolate.
Se as decorações de cupcake são criação do século XX, não se pode dizer o mesmo da receita. Os cupcakes fazem parte de uma longa tradição de bolos porcionados individualmente, que se destinavam a piqueniques, chás e lanches rápidos, cujos registros escritos datam pelo menos de 1796, com grande possibilidade de que seu consumo seja anterior à publicação da primeira receita. Alguns dos possíveis ancestrais ou primos do cupcake moderno são os pound cakes, queen cakes e fairy cakes, bastante populares no século XVIII.
A origem do nome
Não há um consenso entre os historiadores sobre a origem do nome, visto que há duas explicações prováveis e ambas têm registros escritos em livros de receita para comprová-las.
Ingredientes – a primeira possibilidade é que o nome venha do fato de que todos os ingredientes usados na massa tinham a mesma medida (1 xícara).
Cozimento – alguns livros de receitas indicavam que os cupcakes deveriam ser assados em cups individuais. Nesse caso, o termo cup não se refere a uma xícara no sentido literal, mas a formas que imitavam o formato dela e eram geralmente feitas em cerâmica própria para ir ao forno.
Fonte: Paula Walton’s 18th Century Home Journal
Cupcakes históricos: algumas receitas
Quer tentar a sorte com uma receita antiga? Separamos algumas para você testar!
[1796]
“Um bolo leve para assar em formas pequenas”
1/2 libra de açúcar (aprox. 230g), 1/2 libra de farinha (idem), misturada a 2 libras de farinha (aprox. 910g), uma copo de vinho, um copo de água de rosas, 2 copos de levedo de cerveja, 1 noz moscada (moída, mas a receita original não explicita isso), canela e uvas-passas.
Fonte: “American Cookery”, p. 48.
[1828]
“Bolo de Xícara”
5 ovos.
2 xícaras de chá de melaço;
2 xícaras de chá de açúcar mascavo fino.
2 xícaras de chá de manteiga fresca
1 xícara de leite (integral ou direto do produtor, com a maior concentração de gordura possível)
5 xícaras de farinha de trigo, peneirada.
1/2 xícara de especiarias em pó
1/2 xícara de gengibre (em pó?)
Corte a manteiga, adicione ao leite e leve ao fogo até amornar e derreter a manteiga. Acrescente o melaço e o açúcar aos poucos, mexendo bem para que dissolvam. Reserve e deixe esfriar. Bata os ovos e incorpore à mistura fria, alternando com a farinha. Adicione o gengibre e demais especiarias e bata até obter uma mistura homogênea. Asse em formas pequenas untadas, em fogo médio.
Fonte: “Seventy-Five Receipts for Pastry, Cakes, and Sweetmeats”, p. 61.
[1833]
“Bolo de Xícara”
Tão bom quanto um pound cake, mas mais barato.
Uma xícara de manteiga, 2 xícaras de açúcar, 3 xícaras de farinha e 4 ovos, bem batidos e assados em formas ou xícaras. Asse por 20 minutos e não mais.
Fonte: “American Frugal Housewife”, p. 71
[1847]
“Bolo de Xícara Comum”
1 xícara de manteiga, 2 de açúcar, 4 de farinha, 4 ovos bem batidos, 1 xícara de leitelho, 1 colher de chá de bicarbonato de sódio dissolvido em água, 1 colher de chá de extrato de limão ou um cálice de conhaque, 1/2 noz-moscada ralada; bata bem a mistura, unte as formas e forre-as com papel branco; asse por 45 minutos.
Fonte: “The American System of Cookery”, p. 298
Embora as receitas não falem especificamente sobre coberturas, uma decoração muito utilizada em bolinhos do século XIX era polvilhar açúcar (de confeiteiro ou o refinado, peneirado 2 ou 3 vezes). Você pode, inclusive, utilizar stencils, que são folhas de acetato com desenhos vazados, para criar desenhos sobre o bolinho. Essa técnica, além de historicamente correta, é econômica: as folhas de stencil pode ser encontradas em casas de artesanato, a preços módicos, e são reutilizáveis.