A Modista do Desterro – Pauline Kisner

Era Eduardiana: Suportes e Enchimentos

era eduardiana suporte silhueta

Por mais que a gente adore aquelas fotos vintage com cinturinhas minúsculas, elas estão longe de ser reais. As silhuetas maravilhosas das fotografias da Era Eduardiana são fruto de uma combinação engenhosa: manipulação fotográfica e uso estratégico de enchimentos. É sobre os últimos que a gente vai falar um pouquinho hoje.

Uma silhueta complexa

A silhueta da Era Eduardiana não é exatamente “natural”. Com volumes no busto e no bumbum, ela parece fazer do corpo da mulher um gigantesco “S” e aparenta ser mais desconfortável do que é na realidade. Embora muitos sites e até livros ainda divulguem mitos como as cirurgias de remoção de costelas e como o corset eduardiano forçava a coluna das mulheres em uma posição doentia, a silhueta da época era obtida de formas bem menos torturantes.

A moda ocidental só foi abandonar completamente os enchimentos nos anos 1990 – ou você não lembra das ombreiras dos anos 1980? Antes disso, era totalmente aceitável e até esperado que se usasse anáguas e enchimentos para se alcançar a silhueta de cada época. Embora houvesse um certo tabu em falar publicamente sobre isso, afinal a mulher perfeita já nascia assim, o grande número de patentes de enchimentos, moldes em livros e revistas especializados e anúncios de catálogos da época levam a questionar se nossas tataravós eram realmente tão perfeitinhas assim por natureza…

A silhueta típica da Era Eduardiana se baseava no monobosom (volume amplo e único no busto, ou seja, sem a demarcação do espaço entre os seios), com cintura muito marcada e quadris amplos, com um bumbum empinado:

era eduardiana

“POPOZUDAS”

Ao contrário dos mitos correntes, o corset eduardiano não causava lordose nas mulheres. O famoso bumbum empinado e os quadris amplos eram garantidos por enchimentos e anáguas especiais. Para isso, muitos corsets já tinham propositalmente a região do quadril mais larga, permitindo que as peças de enchimento fossem colocadas de form segura sob eles. Este tipo de estratégia é descrita em livros de moda e costura destinados ao público feminino, mas não há registros visuais da época. Assim, vamos contar aqui com o trabalho de corsetières históricas conceituadas, que reproduziram corsets e enchimentos eduardianos a partir de fontes originais.

era eduardiana
Corset da Sparkleweren, a partir da modelagem de um corset eduardiano original. Fonte: Cathy Hay.

Os enchimentos de quadril estavam disponíveis em formatos, tamanhos e materiais dos mais variados, podendo ser comprados prontos ou feitos em casa, com restos de tecidos, o que era mais comum. Mas, claro, havia as versões comerciais, que nós conhecemos através de anúncios, patentes e de algumas peças sobreviventes em museus.

Um dos meus favoritos são os hip pads Scott, uma empresa americana. Eles eram vendidos por catálogo e havia vários modelos e tamanhos, atendendo a diferentes formatos de corpos. E, apesar de aparecerem em muitos museus em cima do corset, as poucas etiquetas sobreviventes indicam que sejam usados como enchimentos internos:

Um outro modelo, de 1900, também com enchimento de quadril:

“PEITO DE POMBO”

Era o apelido nada carinhoso dado à silhueta do busto da Era Eduardiana. Como o corset típico da época apenas sustentava o busto em sua posição natural, sem espremer ou levantar, o efeito já era bem diferente das contrapartes vitorianas:

Créditos: Cathy Hay

Não é muito lisonjeiro, né? Então, para garantir a perfeita silhueta eduardiana, lá vamos nós aos truques femininos!

Bust Improver ou Falsies

O equivalente eduardiano do sutiã de enchimento, os bust improvers/falsies eram usados por dentro do corset, que, assim como no quadril, já era projetado maior nessa área prevendo os enchimentos.

Havia inúmeros modelos de bust improvers. O mais famoso é esse do LACMA, datado de c. 1900:

bust improver era eduardiana
O bojo é estofado como um sutiã com enchimento de espuma! Este é o modelo que estou reproduzindo e que você pode acompanhar o diário de costura no Instagram.

Mas havia os modelos do tipo brassière, que lembram um sutiã moderno, inclusive com barbatanas. Este é um italiano de 1909, possivelmente de uso ortopédico além do estético:

Havia os “limões”:

E os “plastrons”:

Babados

Para dar uma forcinha extra à natureza e evitar que os improvers marcassem nas finas blusas e corpetes, entravam em cenas as corset-covers. As lisas somente disfarçavam as linhas dos suportes, enquanto as de babados ajudavam a arredondar e ampliar ainda mais o busto:

Só a título de curiosidade, o blog Atelier Nostalgia fez um experimento com as diferentes peças de suporte de busto da Era Eduardiana e você consegue ver na foto o efeito que elas têm na silhueta:

Que tal consultar nosso artigo especial sobre moldes históricos para começar a fazer suas peças de moda eduardiana?

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