Na última live da fanpage, conversamos um pouco sobre costura histórica, explicando o que é o hobby, como a costura histórica se diferencia da costura comum, tirando dúvidas das meninas e dando algumas dicas para quem quer começar essa aventura.
Ficou curioso(a)? Assista à live e depois confira 10+ projetos especiais para você começar na costura histórica!
Costura histórica: por onde eu começo?
Como eu falo na live ali em cima, o ideal é sempre começar pelas peças íntimas ou de suporte. Primeiro, porque elas são fundamentais para criar a silhueta correta de cada época. Segundo, porque você pode treinar e errar bastante nelas, entortar costura, que NINGUÉM VAI VER. Brincadeirinha. À exceção do corset, que eu realmente aconselho você a comprar de um profissional que manje dos paranauês, estas peças são razoavelmente fáceis de fazer e um ótimo ponto de partida para o iniciante na costura histórica.
Vamos falar sobre eles?
1. Chemises / Shifts/ Camisas de Manga
São a primeira camada de qualquer traje histórico e, vai por mim, você nunca terá chemises demais. Eu sempre indico essa peça como uma introdução à costura histórica por três motivos:
a) a construção dela é extremamente simples, baseada em retângulos e quadrados;
b) ela foi usada por todas as classes sociais, com pequenas mudanças de construção, da Idade Média até os anos 1920;
c) é uma peça que pode ser feita com tecido de algodão branco (tricoline e percal de lençol) e até com um lençol velho – e isso é historicamente correto!
- Como fazer uma chemise vitoriana (tutorial aqui do blog)
- Medieval: Um tutorial em partes no Youtube, bem visual |
- Renascentista: Angela Clayton | Elizabethan Costume
- Século 17: Festive Attyre |
- Século 18: Marquise | Angela Clayton
- Século 19: Tea in a Teacup | Molde original de 1880
2. Drawers/ Pantalettes / Calçolas
Embora as “calçolas de vovó” só tenham se tornado realmente populares a partir do século 19, elas são uma ótima alternativa às lingeries modernas quando estamos de corset. Elas são confortáveis, arejadas e, além de tudo, salvam a vida de quem tem problemas com assaduras devido às coxas grossas. Sem falar que, no caso de um ventinho maroto, é bem melhor estar com calçolas por baixo dos vestidos!
As tais “calçolas” eram originalmente abertas no meio das pernas por questão de conforto e são basicamente duas pernas de calça, costuradas e decoradas de forma independentes, e unidas apenas no cós. Não é uma visão muito agradável, eu sei, mas vale a pena pelo exercício de costura histórica.
Algumas referências, tutoriais e experiências:
The Dreamstress | Everyday Clothing Project | Molde no site Tudor Links | Molde e instruções da Miniphile |
3. Anáguas
As anáguas são suas melhores amigas. E isso é sério: os melhores trabalhos de costura histórica podem ir por água abaixo sem boas anáguas. Não só elas ajudam a armar vestidos (se forem engomadas, por exemplo), mas ajudam a suavizar as marcas de outras peças de suporte, como anquinhas e crinolinas, para que elas não aparecem no vestido.
Basicamente, anáguas são retângulos franzidos ou pregueados, onde você pode aplicar rendas, babados, bordado inglês e passa-fitas À VONTADE. São bons projetos justamente para você aprender a trabalhar com esse tipo de aplicação, a preguear e franzir barrados de maneira uniforme e firmar a mão na costura: com suas costuras basicamente retas, elas são perfeitas para iniciantes. Além de fáceis, são peças que nos dão um senso de estar chegando a algum lugar, já que nos permitem começar a ver a silhueta da época com que estamos trabalhando.
Como cada época tem anáguas específicas, separei alguns links para vocês.
Aqui no blog a gente já tem um tutorial de anágua eduardiana e outro de anágua vintage estilo 1950.
A Ju Lopes tem um tutorial sobre anáguas de cordão, que são um modelo usado no período 1820-1850 e que têm um sistema bem curioso de suporte.
O Elizabethan Costume tem várias opções de anáguas do período Tudor.
No site da Marquise, temos um pequeno tutorial de anáguas e saias do século 17.
Duas boas opções de tutorias para anáguas do século 18 estão no blog da American Duchess e no blog da Koshka The Cat. Como a construção das saias e das anáguas é basicamente a mesma, o vídeo da Angela Clayton também é uma ótima referência.
Para a época da Regência (algum fã de Jane Austen aí?), temos bons tutoriais e referências aqui, aqui e aqui.
Várias silhuetas são possíveis na Era Vitoriana. Para o período das crinolinas, o site da Truly Victorian oferece instruções + diagrama gratuitos. No blog Tea in a Teacup tem um bom tutorial para anáguas de saias de anquinha. E a Angela Clayton, como sempre, tem vídeos e postagens matadores sobre 1890.
4. “Almofadinhas”
O que eu chamo genericamente de “almofadinhas” são vários tipos de enchimentos usados pelas mulheres para atingir as silhuetas de diferentes épocas. A maior parte delas pode, inclusive, ser feita à mão e usar como enchimento retalhos de tecidos que você colocaria fora, uma técnica historicamente correta.
É muito difícil conseguir moldes prontos para essas peças, já que cada corpo precisa de um tipo de enchimento diferente – o que faz das almofadinhas um ótimo exercício de costura histórica, para você praticar a costura em si e os variados efeitos que se consegue com os enchimentos.
No site Elizabethan Costume você aprende como tirar as medidas e fazer um bumroll do final da Era Tudor.
No blog Demodé Couture você conhece os vários tipos de bums do século 18 e pode testar os formatos que funcionam melhor para o seu corpo.
Um bustlepad é uma ótima opção de iniciantes para quem gosta das anquinhas vitorianas.
E a Era Eduardiana nos oferece ainda almofadinhas de quadris. Ou você achou que elas mini cinturas eram de verdade?
5. Crinolinas & Paniers
Como assim, Pauline? Crinolina para iniciante? Sim, crinolina para iniciantes. Mas eu sou bem taxativa nesse caso: compre um molde pronto, porque montar esse negócio só no olho é uma péssima ideia. Já falei aqui sobre as minhas ótimas experiências com o molde da Truly Victorian e tem um artigo no blog falando sobre opções de moldes históricos digitais 😉
A crinolina não é exatamente o projeto de costura histórica mais barato ou rápido. Ela demora, requer muita costura de mão, mas é uma peça excelente para estimular sua autoconfiança. Sem contar que, depois que a gente tem uma peça de suporte assim, dá mais vontade de fazer o resto da roupa!
Além da crinolina, os paniers (anquinhas) do século 18 são muito mais simples de fazer do que parecem. Aqui no blog a gente tem um tutorial completinho para elas, nesse link.
6. Toucados
Às vezes a gente se preocupa tanto com as roupas em si, que acaba esquecendo que a costura histórica também envolve acessórios. E se teve um acessório que acompanhou a maior parte da história feminina foram os toucados e aqui se incluem os véus. Desde a Grécia Antiga, a cabeça coberta era sinal de conformidade com os padrões morais da época e nem mesmo em casa as mulheres ficavam com o cabelo completamente à mostra. E cada época tinha seus próprios toucados.
Idade Média: Um dos modelos mais básicos para a são as coifas de linho (mas que você pode tomar a liberdade de fazer em algodão, se for o caso), usadas por homens e mulheres. No canal do Sylvan Secrets você encontra um tutorial da coifa unissex. No excelente blog da Katafalk há um tutorial para a coifa Santa Brígida e vários véus e toucados femininos.
Renascimento: a Elizabethan Costume disponibiliza explicações detalhadas e exemplos de vários toucados da época.
Século 18: mesmo com os chapéus enormes, as toucas continuavam sendo usadas e você encontra bons tutoriais para começar aqui, aqui e aqui.
Século 19: Regência e Era Vitoriana tem inúmeros modelos de toucados, grande parte deles carregados com rendas e fitas, então solte a criatividade. Um dos modelos mais simples é esse aqui, mas tem esse outro tutorial para colocar umas ideias na sua cabeça.
7. Bolsos Removíveis
Lá em cima você viu as aberturas laterais das saias e anáguas do século 18? Elas estavam lá por um motivo: acessar os bolsos! Numa época em que as mulheres tinham abandonado as bolsas, bolsos internos, ocultos sob a roupa, eram uma ótima opção para proteger seus pertences.
Os bolsos eram democráticos, feitos em casa com restos de tecidos dos vestidos e de outros materiais domésticos. É uma peça de baixa dificuldade e custo de produção, podendo ser feito com materiais que você já tem em casa. Os originais variam desde peças feitas com retalhos unidos com técnica de patchwork até bordados com fios metalizados.
O Museu Victoria & Albert disponibiliza um tutorial para você fazer seu bolso a partir de uma peça do acervo deles.
Na minha lojinha no Elo7 você também tem a opção de comprar um arquivo digital com molde + instruções completinhas de montagem da peça.
Aproveite e confira o artigo sobre tecidos para trajes históricos e saiba quais são os melhores materiais para seus projetos.
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3 respostas
Oi, Pauline!
Quero muito te agradecer pelo seu trabalho e por se dispor a nos ensinar o que você sabe. Estou iniciando no universo da costura, não apenas porque sou apaixonada por isso, mas também porque eu trabalho com produção editorial (capas de livros) e quero produzir alguns ensaios fotográficos históricos, mas sinto muita dificuldade em encontrar figurino aqui no BR. Por isso decidi por a mão na massa e estou amando os seus artigos. Obrigada mesmo. Desejo que você tenha cada vez mais sucesso. 🙂
Grande beijo! <3
Muito obrigada, Gisely <3
Saber que estou ajudando quem está chegando nesse universo é o maior estímulo que tenho para continuar!
Gostaria de saber se você tem molde de casacos masculino estilo piratas do Caribe, acredito que seja século 18