A Modista do Desterro – Pauline Kisner

Costura Histórica: Como planejar seu projeto sem pirar?

como organizar um projeto de costura histórica

Gostar de costura histórica é viver num eterno dilema. Ao mesmo tempo em que a gente admira aqueles trajes maravilhosos no Pinterest e no Instagram e deseja todos eles no guarda-roupas, não bate um frio na barriga na hora de pensar em fazer um deles? Porque são tantos detalhes maravilhosos que a gente simplesmente acha que não vai dar conta. Você se sente assim? Bem-vindo(a) ao clube.

Às vezes olhar o grande cenário – um panorama bem amplo e geral – pode ser bom. Mas se você, assim como eu e uma boa parcela da população mundial, tem problemas com ansiedade e insegurança, o grande cenário pode se transformar num monstro que devora toda a sua motivação e a transforma em medo de não dar conta.

Aqui entra uma coisa que aprendi com o Sr. Modisto: uma coisa de cada vez, ou seja, quebrar projetos grandes em pequenas tarefas. E é sobre isso que vamos falar hoje:

Como planejar um projeto de costura histórica sem pirar e abandonar tudo no caminho. 

1. Defina bem o projeto e seus prazos

Pode parecer uma coisa muito básica, mas saber exatamente o que você quer fazer e quando pretende usar são duas coisas indispensáveis para a organização do projeto. Principalmente para pensar em prazos: sabendo quanto tempo você tem disponível, fica mais fácil de organizar as tarefas. E uma dica: sempre se programe para finalizar o projeto 2 semanas antes do prazo final. Assim, se você tiver algum contratempo, não estará correndo para finalizar o traje na véspera do seu evento 😉

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O famoso “Quero! Só não sei nem por onde começo…”

2. Organize suas referências visuais

Nessas horas o Pinterest é seu melhor amigo. Na plataforma você encontra ótimas referências de peças originais preservadas em museus, além de reprodução de ótima qualidade feitas por costumers experientes. É importante guardar referências não só do traje que você escolheu como inspiração principal, mas de outros semelhantes do mesmo período, de preferência em diferentes ângulos. Isso permitirá a você visualizar detalhes importantes como posição de costuras e pences, pregas e decorações.

Um dos melhores recursos atuais do Pinterest é a criação de subpastas, o que é perfeito para o próximo passo.

3. Quebre o projeto em partes

Depois de decidir o que você vai fazer, é hora de identificar quais peças fazem parte do seu traje, organizadas entre roupa interior e roupa exterior.

Via de regra, trajes históricos são construídos de dentro para fora, então uma das coisas mais importantes aqui é identificar o que vai embaixo da roupa que você está imaginando: chemise, corset, calçolas, crinolinas, anquinhas, almofadinhas de bumbum ou quadril e anáguas são itens fundamentais para você criar a silhueta. Faça uma lista de quais dessas peças são necessárias para o seu traje.

A roupa exterior também pode ser dividida dessa forma, em peças. Essa organização permite a você decidir a ordem em que as peças serão feitas e se você já não tem peças em casa que possam ser usadas.

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A roupa interior correta é fundamental para seu traje ficar realmente parecido com o que se vê nos quadros e ilustrações da época 😉

4. Selecione os moldes

Você vai usar moldes prontos ou traçar os seus? Caso planeje riscar seus próprios moldes, o Pinterest tem ótimas imagens de diagramas originais do período que podem servir de inspiração. Também é legal você dar uma procurada em livros de costura originais da época, como os que separei para você aqui nesse post.

Mas, se você optar por usar moldes prontos, existem ótimas opções em formato digital. Neste post eu te conto tudo sobre os moldes históricos modernos e onde encontrá-los.

5. Escolha os materiais

Aqui tudo depende do quão historicamente correto seu projeto precisa ser e de quanto você tem para investir em recursos e tempo.

É muito difícil encontrar materiais 100% historicamente corretos e, quando achamos, eles tendem a ser bem caros (linho e lã natural, por exemplo). A menos que você esteja fazendo uma réplica para um museu ou tenha um orçamento bem generoso, nada impede que você faça adaptações de materiais: seda sintética no lugar da natural, algodão no lugar do linho, bordados com fios sintéticos, passamanarias com materiais modernos… O importante é que pareça mais algo saído de um quadro do que uma fantasia. Minha dica número um nesse caso é fuja do cetim. Em quase todos os trajes históricos, aquele cetim baratinho só serve para forro; para a roupa exterior, cetim de noiva ou cetim de cortina de boa qualidade até passa, mas com cuidado. Aliás, nesse post você encontra várias dicas para ajudar na escolha de tecidos para trajes históricos

Minha segunda dica de ouro: mantenha um registro dos materiais que você escolheu. No caso de tecidos e bordados, a maioria das lojas fornece uma pequena amostra se você pedir. Eu uso um caderno para colar as amostras, a loja, o preço e a data. Assim, se eu precisar comprar mais material, não perco muito tempo quebrando a cabeça tentando descobrir de onde veio.

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Essa ideia nem é tão moderna. No seculo 18 já existiam livros de amostras usados por vendedores e pelos responsáveis pela organização dos guarda-roupas reais

6. Hora de calcular!

Calcule todo o material que será usado para cada peça e feche custo de produção por peça. Evite somar todas as peças; lembre-se que estamos trabalhando peça por peça para diminuir sua ansiedade.

7. Estabeleça metas

Metas são ótimas em projetos de costura histórica! Aliás, em qualquer projeto^^

Estabeleça suas metas em pequenas tarefas, não em horas. Por exemplo: “hoje eu vou marcar a barra daquela saia” ao invés de “hoje vou costurar até as 19h”. Eu acabei descobrindo ao longo dos últimos anos que produzo muito melhor assim, fazendo pequenas tarefas em cada dia, porque várias horas seguidas de trabalho na costura vão me deixando cada vez mais cansada e lenta, além de mais propensa a cometer erros.

8. Faça listas

Isso é uma coisa bem pessoal, que pode não funcionar para você, mas eu gosto de deixar uma listinha de tarefas em local visível. Assim, quando começo a achar que o projeto não está andando, os itens já riscados na lista me ajudam a ter uma dimensão do quanto progredi. Isso e o fato de que eu me motivo a terminar a lista logo, hahahahhahaa

9. Registre seu trabalho

Sério, faça fotos. Muitas fotos. Assim, você pode ter uma noção melhor do quanto progrediu em cada peça e no projeto todo.

Plus: compartilhe seu trabalho nas suas redes sociais. Vai fazer muito bem para a sua motivação!

10. Faça pausas

Costura é um negócio de exige muito do corpo e da mente. Quando a gente começa a errar e ter que desmanchar, quando sabemos que alguma coisa está errada na peça mas não conseguimos descobrir o que é… bem, essa é a hora de parar e fazer outra coisa para liberar a mente^^

Respeite seu tempo e seus limites.  Em tempos de redes sociais, é muito fácil a gente se cobrar com base no que as outras pessoas estão produzindo. Mas cada um tem seu ritmo e a costura histórica deve ser um prazer na sua vida, mesmo que você esteja produzindo por encomenda.

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Às vezes tudo o que você precisa é de um bom livro e uma bebida quente.

Por onde começar?

Depois de dividir o projeto em peças individuais, resta a dúvida de por onde começar. Em todos esses anos nessa indústria vital *cof  cof *, comecei a adotar uma sequência para construção dos trajes, começando pelas peças mais próximas ao corpo:

1. Roupa interior

  • Chemise
  • Calçolas
  • Corset/Stays
  • Bolsos removíveis (em caso de trajes do século 18, por exemplo)
  • Almofadinhas ou armações metálicas
  • Anáguas

O bom de começar pela roupa íntima é que são peças básicas. Se você costura Era Vitoriana, por exemplo, é provável que consiga usar o mesmo conjunto de chemise+calçolas+corset com quase todos os seus trajes. Se o século 18 é o seu território, um conjunto de chemise + stays + anágua + fichu pode servir de base para quase todos os trajes que você puder imaginar. Sem contar que saber o que você já tem em casa te poupa muito tempo!

2. Roupa Exterior

Aqui eu aplico a lógica de fazer as peças na mesma ordem em que elas são vestidas. Normalmente eu trabalho nessa sequência:

  • Blusa/Camisa/Chemisette
  • Saia / Sobressaia (muito importante em caso de trajes da Era Bustle)
  • Sobreveste / Vestido
  • Casacos / Pelerines / Mantos

Para trajes masculinos, sigo uma lógica semelhante:

  • Camisa
  • Calça / Culote
  • Colete
  • Casaco

No caso de trajes que têm modelagem mais justinha no tronco, seguir essas camadas é importante, pois cada camada de roupa sobre o torso altera as medidas da cintura, ombros e circunferência dos braços.

3. Acessórios

Isso aqui é uma coisa muito importante. Às vezes a gente fica tão focado na parte da costura que acaba esquecendo como pequenos detalhes de acessórios podem levar um traje do inferno ao céu em questão de segundos. Não negligencie os acessórios, principalmente as coberturas de cabeça (toucas, capuzes, chapéus) e coisas como brincos e colares. No caso de trajes masculinos, chapéus de boa qualidade são o melhor investimento que você pode fazer e uma boa pesquisa sobre gravatas de cada época pode salvar seu traje.

Está com dúvida sobre o que usar como acessórios? Esqueça os camafeus e gargantilhas de renda e os pingentes modernos. Procure fontes primárias: esculturas e quadros originais da época que você está retratando são suas melhores fontes de informação para entender quais acessórios usar. Pesquisa nunca é demais 😉

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