A Modista do Desterro – Pauline Kisner

Costura Histórica: 10 projetos rápidos para fazer com retalhos

Chega essa época do ano, eu sempre acabo fazendo uma limpeza no quarto de costura e isso invariavelmente atinge o armário de tecidos. Eu tenho uma cômoda de 6 gavetas para organizar os tecidos por cor… só que dificilmente ela fica organizada como eu gostaria. Na correria do dia-a-dia, os retalhos que sobram dos projetos concluídos vão se acumulando sem muito critério nas gavetas, jogados lá sem muito critério, o que me causa um problema imenso na hora da limpeza.  E como resíduos têxteis são um dos maiores problemas da atualidade, junto com o plástico, resolvi que estava na hora de resolver essa situação de um jeito mais consciente e responsável.

Um dos principais problemas da costura histórica é que nossos trajes consomem quantidades de tecido muito maiores do que as roupas modernas. Cortes de 1m x 1.40m, que dão origem a blusas e shorts modernos dependendo do manequim, acabam não sendo suficientes para muitas peças históricas. Além disso, as peças históricas têm recortes, evasês muito abertos…coisas que dão aos restos de tecido formatos que não favorecem muito o reaproveitamento. Mas, dessa vez, eu estava decidida a dar um destino mais honesto para os meus retalhos e comecei a pensar em pequenos projetos de costura histórica que podem ser feitos com medidas mais modestas ou que tenham registro de uso de retalhos emendados.

Costura Histórica: Separando os tecidos

A primeira coisa que eu fiz foi separar os tecidos por fibra e metragem. Meu critério para guardar foi o tipo de fibra (algodão e lã tinham que ficar e alguns sintéticos específicos também) e a metragem: os maiores foram guardados para eventuais reparos em trajes do acervo e para dar origem a novos projetos. Os descartados foram encaminhados para reciclagem. Depois que tudo estava separado, comecei a rascunhar os projetos que poderiam ser feitos e assim nasceu esse post. Vamos aos projetos?

1. Enchimento para peças de suporte

Ok, isso não é um projeto propriamente dito, mas é uma boa maneira de dar destino àqueles retalhos menores que não teriam outra serventia e substituir as fibras sintéticas de enchimento. As famosas “almofadinhas” que davam forma aos vestidos de diferentes períodos eram feitas com materiais naturais como restos de tecido e cortiça, então essa é uma possibilidade não só ecológica mas também historicamente correta.

Comecei cortando com a tesoura de zigue-zague todos os retalhos pequenos demais para virar qualquer outra coisa. Fiz uma sacola com esses recortes para os próximos projetos, já que todas as minhas figurinhas do projeto Traje Brasilis têm algum tipo de bumpad.

2. Peças de suporte estofadas

A gente acaba lembrando muito mais das crinolinas e paniers com seus aros metálicos, mas nem sempre as mulheres tinham disposição ou condições para usar esse tipo de armações. Em casa ou em trajes informais, as peças de suporte frequentemente ganhavam a forma de almofadinhas. Exemplos de diversas épocas não faltam:

E se você está procurando um projeto desses para começar, temos duas ótimas opções de moldes profissionais que são gratuitas: O bustlepad 1890 da BlackSnail Patterns e o bumpad 1775-1795 da Scroop Patterns.

3. Testes de modelagem e forro para corpetes e mangas

Sempre que preciso fazer um molde de uma peça que não tenho lá muita intimidade, bate aquele medinho de cortar direto no tecido recém-comprado. Então começo fazendo um teste de modelagem num tecido de algodão liso. Faço todos os ajustes e alterações nele e, se der pra aproveitar, já transformo esse teste no forro. Confesso que sempre resisti à ideia de fazer um forro que não seja todo da mesma cor, mas exemplos históricos como esse casaco do final do século 18 nos mostram que isso é possível. A peça é do Museu Metropolitano de Nova York:

SUGERIDO | Resenha: Bust Improver (1900s) da Wearing History

4. Punhos, Golas & Mangas Falsas

Em diferentes momentos, as pessoas usavam golas e punhos brancos removíveis, costurados, abotoados ou até costurados nas roupas. Os trajes em si não eram lavados com tanta frequência, e peças brancas traziam a ideia de limpeza. Então, golas, mangas falsas e punhos eram lavados frequentemente e até fortemente engomados. Decorados com renda ou não, eles são uma ótima adição ao seu traje e podem dar destino tanto aos retalhos de tecido quanto às sobras de rendas que não servem para outros projetos.

SUGERIDOComo engomar roupa em casa do jeito vitoriano

5. Coisinhas de Costura

Existem muitas coisas que facilitam sua organização e são muito bonitinhos para carregar por aí. Se você tá pensando em costuras na férias, certamente um bom estojo de costura será útil. Então que tal costurar um hussif (kit de costura) ou uma almofada de alfinete?

SUGERIDOHussif, o kit de costura do século 18 & 19

6. Chemisettes

A chemisette é uma camisa falsa, geralmente sem mangas, que era usada para preencher os decotes dos vestidos da Regência. Ainda encontramos chemisettes na Era Vitoriana, como uma boa alternativa para fechar um decote e criar um visual diferente no traje.

Geralmente as chemisettes são feitas de algodão fininho e usam bem pouco tecido, sendo um ótimo projeto para você dar destino a alguns retalhos.

Clicando aqui você confere o tutorial completo em português que já temos no blog.

7. Bolsos, Retículas, Bolsinhas

Antes do início do século 19, as roupas femininas costumavam ter bolsos removíveis ENORMES e extremamente práticos. Embora haja muitos exemplares decorados em museus, que parecem verdadeiras obras de arte, boa parte deles era feita com sobras de tecido. Com cerca de 50cm e um pouco de viés você já consegue fazer um ótimo bolso. Inclusive, no blog do Traje Brasilis você encontra um tutorial completo para fazer o seu e alguns riscos de bordado para você reproduzir em casa.

Mas, se o século 18 não é exatamente sua praia, existem também as retículas e bolsinhas de mão do século 19, projetos que funcionam dentro e fora da costura histórica:

8. Viés

Nunca subestime o poder de um viés feito em casa e com o próprio tecido do seu traje. Ele pode ser usado para dar acabamento em decotes e pontas de corpete, mas também pode reforçar costuras e ser usado para estruturar a barra de saias. Clique aqui e aprenda a fazer seu viés em casa sem precisar comprar aparelhos especiais.

9. Fazer Aviamentos

Não, você não leu errado. No século 18 & 19 era muito comum que as decorações dos trajes fossem feitas com tecido, tanto do próprio traje quanto de outras peças. Reaproveite tiras de tecido para fazer puffs, laços, apliques plissados, pequenos babados e até para forrar seus botões em casa.

Um exemplo de aplicação feita com o próprio tecido nesse traje de 1775-1780.

10. Recicle Sapatos

Sabe aqueles sapatos LINDOS que vemos em museus? Dá pra pegar um sapato velhinho e revitalizá-lo com sobras de tecido, fazendo ele combinar (ou não) com seu traje. É maravilhoso para trajes de século 18, mas você pode usar fora da costura histórica. Aqui tem tutorial em vídeo.

BÔNUS: Toucados

Crianças e mulheres usaram toucados em todos os períodos desde a Idade Média, tanto por motivos sociais quanto de higiene. Os toucados eram a base de muitos chapéus e são uma ótima alternativa para cabelos curtos ou coloridos em situações onde eles não podem aparecer (museus, filmes, etc). Nesse post você encontra um lista de tutoriais para toucados em vários estilos e de várias épocas.

Lá no canal você encontra um tutorial completinho em vídeo para fazer toucados do século 18:

E também da Era Vitoriana:

Está planejando começar aquele projeto especial de costura histórica? Então confira também esse post sobre como organizar melhor o seu projeto!

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