A Modista do Desterro – Pauline Kisner

Como destruí um traje de época para o Halloween

Não, você não leu errado. Esse ano eu sacrifiquei um traje de época na fogueira das minhas vaidades e criei um visual de Halloween beeem diferente do que estava acostumada a fazer!

Na escola onde eu trabalho nós temos um “dia D”, um evento mensal em que os formandos deixam o uniforme de lado e vão para o colégio fantasiados com um tema específico. O tema de outubro foi “fantasia” e nós, professores, aproveitamos para entrar no clima do Halloween e fazer uma surpresa para eles. Cada professor escolheu um personagem (teve de Pennywise à Sally do Estranho Mundo de Jack), mas eu queria fazer algo com inspiração histórica, de preferência Revolução Francesa porque eu acho que guilhotinas deveriam voltar a ser usadas. Fazer roupa estava fora de cogitação, então me voltei para um dos primeiros trajes que eu fiz, lá em 2013: uma Chemise a la Reine, que estava imaculadamente branca até o momento:

Meu marido me fazendo rir na hora da foto faz tudo ficar menos fotogênico, rsrsrsrsr

Eu não queria ser um fantasma do bem nem a tradicional mulher de branco, então eu sabia que precisava destruir essa Chemise, mas de um jeito controlado:

  • Bordas desfiadas
  • Barra suja e escurecida
  • Quebrar o branco da roupa
  • Rasgões e manchas
  • SANGUE

A primeira coisa que eu fiz foi desmanchar as bainhas e usar um bisturi para desfiar o tecido. Fui simplesmente esfaqueando o vestido aleatoriamente e puxando o bisturi em direção das barras.

As mangas também sofreram danos em nome da Arte

Para “quebrar” o branco, usei o tradicional chá preto. Fiz uma mistura bem concentrada (50g de folhas de chá para 3l de água) e adicionei 3 flores de hibisco para dar um fundo levemente rosado na tintura e 1 punhado de sal de cozinha para ajudar na fixação. Como eu sabia que a barra tinha que ser mais escura que o resto, criei um degradê do jeito tradicional: mergulhei a pontinha do vestido na mistura por 3min e depois fui descendo o vestido em intervalos de 2min. Fiz isso 4x, sempre lavando o vestido em água corrente na sequência, até conseguir o tom que eu queria. Com a lavagem, a tintura de chá se espalhou pela peça e já quebrou aquele branco imaculado. Mas eu ainda não estava satisfeita, então saí arrastando a chemise pelo pátio com sujeira que desceu das calhas (semana de chuva por aqui) e consegui isso:

Pensa na cara dos meus vizinhos da frente olhando isso balançando no vento de noite!

Repeti essa operação da sujeira mais 1x e deixei a peça secar. Depois era hora das manchas.

Para fazer as manchas de sangue, primeiro usei o sangue artificial à base de gel (receita no fim desse artigo), mas ele acabou se espalhando e se diluindo com o tecido. Ele funciona muito melhor na pele, definitivamente. Minha casa tava parecendo uma cena de crime e no fundo você consegue ver como ficou parecendo mais uma mega mancha de vinho do que qualquer outra coisa:

Sr. Modisto me deu então a ideia de trabalhar com tinta para tecido, mas eu não queria um negócio muito líquido. Então resolvi testar tinta acrílica + gel e consegui fazer algo mais parecido com a consistência de sangue venoso. Para conseguir fazer isso dentro de casa, ensaquei a Jezebel num saco plástico preto:

Tava tão limpinha!

Aí era a hora de fazer os espirros de tinta no decote (usei uma escova de dente para dar o efeito salpicado) e os jatos de sangue no resto do vestido (usei um pincel firme e fui literalmente jogando tinta no tecido):

Detalhe maroto do decote:

Montando o look

A maquiagem não tinha muito mistério. Usando o pancake da ColorMake em versão seca, só com a própria esponja dele, cobri meu rosto e decote. Fui fazendo olheiras, contorno e hematomas misturando preto, dois tons de vermelho e um pouco de azul. Sem o cabelo e o sangue, eu fiquei bem emo:

Sorry I can’t be perfect

As costurinhas de delineador foram só licença poética mesmo. A boca foi contornada com um lápis preto aleatório e bem cremoso da Ruby Rose e em cima usei um batom furta-cor da mesma marca, que fica um verde meio pantanoso que a câmera infelizmente não pegou direito.

Eu ia usar uma touca, como as condenadas à guilhotina, mas o tom das pontas do meu cabelo fez um contraste tão legal com a maquiagem que eu resolvi só aplicar pomatum na raiz pra ele ficar bem oleoso e baguncei as pontas. Meu sangue artificial semi-coagulado maravilho já estava num tubinho de molho, daqueles de lanchonete, então foi só aplicar no corte do pescoço, canto da boca e corte da testa e deixar o negócio escorrer:

Ao longo da manhã o sangue foi escorrendo pro decote e o negócio ficou cada vez mais sujo e eu adorei!

Aí você chega na escola, numa semana de provas, e a professora de Artes é essa. Ainda bem que não tinha nenhuma família conhecendo a escolha ontem, hahahahaha

Fazendo o sangue

Eu sei que vocês só leram até aqui por causa disso, rsrsrsrsrs.

O sangue que eu usei foi feito com uma mistura de gel de cabelo incolor à base d’água (isso é muito importante!) e corante alimentício vermelho e preto. O segredo é fazer uma mistura bem vermelha com o gel e adicionar uma gotinha de preto de cada vez, até chegar no tom que você quer. Quanto mais preto, mais velho e coagulado o sangue parece. O resultado dessa mistura é um sangue viscoso, que faz grumos que parecem coágulos. Se você quiser um sangue mais fluido, adicione algumas gotas de água aos poucos. Ah, também rola acrescentar uma ou duas gotinhas de verde escuro para fazer um sangue mais “podre”, estilo zumbi mesmo.

Fez o sangue? Conta aí pra mim como foi sua experiência!

Um péssimo Halloween para todos vocês!

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