Quando a rainha Vitória se casou em 1840, é muito provável que ela não soubesse que estava inaugurando uma tradição nos casamentos do Ocidente. Sendo a primeira noiva vitoriana, a rainha escolheu um vestido carregado de significados políticos, que mandava mil recados para seu povo e duas mil indiretas para seus adversários políticos, que não eram poucos. Apesar de não ser mais 100% original, o vestido da Rainha Vitória está preservado em excelentes condições e ajuda a contar um pouco da história dos casamentos na Era Vitoriana e depois dela.
A origem dos vestidos brancos
A Rainha Vitória não foi a primeira noiva nobre a usar branco. O branco era uma cor restrita ao meio da nobreza, porque era difícil de ser obtido (bons métodos de alvejamento só surgiram no fim do século 18) e mais difícil ainda de ser mantido. Assim, muito antes de ser uma cor relacionada a uma suposta “pureza”, o branco foi símbolo de riqueza para um pequeno grupo de nobres que podia se dar ao luxo de usar uma cor que sujava e manchava com tanta facilidade.
O vestido branco da Rainha Vitória era um atestado da prosperidade econômica da Inglaterra, mas isso não era suficiente. Vitória chegava ao casamento não como uma princesa, mas como uma Rainha coroada, e à frente da nação mais poderosa do mundo. Além de riqueza, ela precisava demonstrar seu comprometimento com o povo e com o reino e isso foi feito através da escolha da renda do seu vestido.
O vestido de noiva da Rainha Vitória foi pensado a partir de peças de renda. O design da renda foi criado por William Dyce, chefe da ancestral da Royal College of Art, e executado como uma renda do tipo honiton – um tipo de renda de bilro característico da Inglaterra, que na época já estava sendo fabricada industrialmente. Muito cara, e totalmente fora de moda: na época do casamento, a febre na Europa eram as rendas feitas em Bruxelas. Ao escolher uma renda de fabricação inglesa, a Rainha Vitória afirmava publicamente um compromisso com a crescente indústria britânica. A consequência mais imediata foi uma revalorização da renda Honiton na Inglaterra e fora dela, dando um novo fôlego às pequenas indústrias que até então não conseguiam competir com a rendas importadas. Infelizmente, a saia de renda do vestido se perdeu ou foi reciclada em outros trajes.
O design do vestido foi assinado e executado pelo atelier de Mary Bettans, a modista que mais tempo ficou a serviço da Rainha. Para ressaltar a renda, foi escolhido um cetim de cor branca, também de fabricação inglesa, colocado em um vestido prático e elegante, que refletia a atmosfera social da época (com uma burguesia que queria se distanciar dos exageros da nobreza do século 18!) e cumpria seu papel estético e político.
O vestido original da Rainha Vitória
Para nossa sorte, a Rainha Vitória tinha uma afeição especial pelo seu vestido e por tudo o que ele simbolizava. O que isso significa? Que ele foi preservado quase intacto:
Junto com o vestido, a jovem Rainha Vitória usou uma grinalda feita de flores de laranjeira (símbolo de pureza) e murta (felicidade doméstica). Essa combinação de flores se tornou um padrão entre as noivas da família real inglesa e também bastante popular entre as noivas vitorianas de forma geral. Um galho da murta da grinalda da Rainha Vitória foi plantada após o casamento e, desde então, todas as noivas reais carregam um galho dessa planta em seus buquês ou grinaldas. Aqui no blog temos um artigo sobre a linguagem das flores para você conhecer as combinações e simbolismos dos buquês.
Outra peça que fazia parte do vestido original e chegou até nossos dias foram as sapatilhas feitas sob medida para o casamento:
A Rainha Vitória gostava tanto do seu vestido e das lembranças do dia do seu casamento, que manteve a renda do véu sendo reutilizada em várias ocasiões. Além disso, assim que a fotografia chegou à Inglaterra, a Rainha encenou uma foto de casamento com o Príncipe Albert:
No aniversário de 7 anos do seu casamento, ela encomendou um retrato ao pintor Franz Xavier Winterhalter, usando o vestido de noiva, para presentear o Príncipe Albert:
E aqui a Rainha Vitória aparece com o véu de seu casamento na foto oficial do seu Jubileu, em 1897:
Gostou do artigo?
Então que tal ajudar a produzir ainda mais conteúdo de qualidade?
Seja um padrinho d’A Modista do Desterro e ajude a manter o blog sempre com conteúdo exclusivo e fresquinho para você. Nossos padrinhos ajudam a decidir o conteúdo, escolhem novos temas e tutoriais e podem até contar com uma consultoria exclusiva para algum projeto especial.