A Modista do Desterro – Pauline Kisner

Calçolas Eduardianas (1900-1915)

calçolas eduardianas

Eu adoro livros de costura antigos, tanto quanto amo revistas de moldes. São uma ótima leitura para a gente ter uma noção da construção das peças originais, das técnicas que eram usadas e para aprender a traçar os moldes como se fazia em cada época. Um dos melhores livros desse tipo sobre a moda do período eduardiano é o Clothing for Women: selection, design, construction, publicado nos Estados Unidos nos anos 1900s para uso doméstico e nas escolas femininas. Como eu já tinha uma edição de 1917 do livro há algum tempo, resolvi testar as instruções e riscar um molde de calçolas de acordo com o tutorial do livro:

calçolas eduardianas

Escolhi uma calçola do tipo aberta e circular (circle open drawers), um modelo muito feminino e popular durante a Era Eduardiana. Eu já tinha em mente produzir um conjunto completo de lingerie da época, então sabia que ele teria babados de bordado inglês e laços de fita roxos, para combinar com a chemise que já estava pronta. Escolhi um algodão de lençol bem fino que é vendido na loja de tecidos perto de casa (praticidade ou perdição?), com largura suficiente para comportar as pernas cortadas em godê.

Seguindo as instruções  ¬¬’

Eu não sou o tipo de pessoa que lê manual de instruções, então vocês já conseguem imaginar o que foi destrinchar as instruções do livro, né? O método para traçar o molde é infinitamente mais complicado do que o método que eu uso normalmente, mas, como ele é todinho baseado em cálculos de proporções, acabou funcionando melhor do que eu esperava. Minha única ressalva é a largura da perna da calçola: quando eu tracei o molde original, achei que estava muito aberto o godê e reduzi; na hora de cortar, precisei refazer o molde ou a calçola não teria o efeito esperado.

As instruções originais se baseiam em três medidas (comprimento até o joelho, cintura e quadril), que são divididas e multiplicadas inúmeras vezes para se chegar ao molde final. O que complicou minha vida foram as polegadas, pois as conversões nunca são exatas. Ainda assim, apesar das instruções um pouco complexas no começo, gostei bastante do resultado:

calçolas eduardianas

Materiais

Escolhi um algodão de lençol bem fininho e delicado, já que é uma peça que terá contato direto e constante com a pele. Além disso, é um algodão que eu já havia usado antes e sabia que tinha duas coisas muito boas: encolhia pouco na pré-lavagem e resistia muito bem a ser alvejado várias vezes, o que é normal para uma roupa que tem contato direto com a pele.  Para a decoração, bordado inglês largo, passa-fita e fitas de cetim. Para os acabamentos, viés de algodão pré-cortado. E botões para um fechamento mais discreto na parte da frente.

  • Tecido – 1m x 2.5m
  • Bordado inglês – 6m
  • Fita de cetim – 1.5m
  • Passa-fita- 1.5m
  • Viés- 1.5m
  • Botões – 5, de plástico

Montando a peça

Acabei esquecendo de fotografar o processo de desenho do molde, porque eu fiz mais contas do que alguém de Humanas jamais sonhou fazer, hahahahahaa. Quando lembrei de fotografar o negócio direito, já tinha cortado as calçolas e começado a montar a decoração de uma das pernas:

Optei por seguir a ordem de montagem do livro e foi realmente uma boa ideia. Normalmente eu primeiro aplicaria os babados e depois fecharia a costura da coxa, mas primeiro fiz a costura francesa e depois preguei as decorações. Facilitou minha vida enormemente.

Uma outra dica do próprio livro e que deu um resultado melhor do que o esperado foi finalizar tudo com viés. Normalmente eu teria pregado um revel (o que triplicaria o tempo de montagem), mas a troca acabou sendo boa. Embora, numa próxima vez, eu provavelmente faça o viés com sobras do próprio tecido, ao invés de usar um desses rolinhos prontos que a gente compra em loja de aviamentos.

A carcela na frente também não é algo que eu faria normalmente, até porque ela não tem função de fechamento nenhuma ali. É só por uma questão de modéstia, para deixar o negócio menos indiscreto, mas funcionou bem e vou incorporar nos próximos modelos DE CERTEZA.

Resultado final

calçolas eduardianas
As duas pernas cortadas, uma delas já com a decoração.

Detalhe da montagem da perna com os apliques de bordados:

calçolas eduardianas

A frente, com a carcela ainda sem os botões:

calçolas eduardianas

E as costas, com o bumbum negativo da manequim sem ajudar no caimento:

calçolas eduardianas

E como é usar um negócio desses?

Vamos começar estabelecendo que usar um corset histórico com calcinhas modernas é um problema porque as duas coisas não foram projetadas para combinar. Principalmente quando se usa as várias camadas de um traje, ir ao banheiro pode ficar meio complicado. Não é a imagem mental mais agradável de se criar, mas esse tipo de calçola, com o entrepernas aberto, facilita o processo todo.

Quanto à questão da segurança em caso de um vento ou suspensão da saia, as calçolas eduardianas eram uma das primeiras camadas a serem vestidas. Por cima delas ainda teríamos pelo menos mais duas anáguas (normalmente mais do que isso) e uma saia. Então, a chance de sofrer um acidente indiscreto era realmente pequena, rsrsrs.

Eu acho este tipo de peça bem confortável. No começo foi estranho, mas acabei me acostumando por uma questão de praticidade, especialmente com trajes que tenham algum tipo de armação!

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