A Modista do Desterro – Pauline Kisner

Como fazer buckram, a entretela do século 18

“Buckram” (em francês bouquerant , em italiano bucherame) é o nome em inglês de um de tecido de linho grosseiro engomado, que no século 18 era usado para reforçar a estrutura de stays e corpetes, além de punhos de casacos, coletes e golas de camisas. Embora fosse feito com linho no século 18, nos séculos anteriores o buckram era feito com algodão e sua origem é possivelmente asiática: já na Idade Média há registros do uso do bokeram de algodão na encadernação de livros e os especialistas acreditam que esse material fosse, de fato, fabricado na região da cidade de Bukhara, no atual Uzbequistão. A origem da palavra também estaria numa das características mais marcantes desse material: uma trama aberta, que parece ter vários furinhos quando colocada contra a luz.

O uso do buckram na indumentária data pelo menos da metade do século 16. Ele aparece listado em livros de compras e inventários de guarda-roupas da nobreza inglesa e era muito usado para estruturar peças de sustentação, como os corpetes de vestido, além de ajudar a estruturar e estabilizar mangas, casacos, coletes e os famosos chapéus femininos que marcaram o Renascimento. Os stays do período também eram reforçados com buckram, como o dessa efígie da Rainha Elizabeth Tudor:

No século 18, o buckram estava disponível em vários “pesos”, assim como as entretelas modernas. O que determinava esse peso era a combinação entre a qualidade do tecido e a quantidade de goma utilizada. Cada peso de buckram tinha locais específicos para ser aplicado, de acordo com a necessidade de reforço da peça. Esses stays de 1780 já não têm mais o forro, o que nos permite ver sua estrutura interna com pelo menos três variedades de buckram, que você identifica pelos diferentes tons de bege que parecem retalhos aleatórios:

Vamos fazer seu buckram?

Antes de qualquer coisa, é importante que seu buckram seja feito num dia quente, de preferência com sol aberto. Mas, se você tiver um fogão à lenha ou aquecedor, dá pra fazer num dia frio, embora o resultado não vá ser tão bom.

Você vai precisar fazer esse processo da goma num local que não transfira cor para o seu tecido. Eu usei a bancada de mármore da cozinha para as peças maiores e uma tábua de carne de vidro para as menores. Para remover a goma das superfícies, usei álcool e uma esponja.

Goma

A mais comum era a goma tragacanto, mas você vai conseguir bons resultados com um substituto moderno que é a goma xantana. Usada na confeitaria, ela pode ser comprada em casas que vendem produtos naturais. Aqui em Floripa eu paguei pouco mais de R$5 por 100g.

Preparei a minha goma na proporção de 2 colheres de sopa de goma xantana em pó para 1 colher

Tecido

O buckram ideal do século 18 seria feito com linho puro grosseiro, coisa rara (e cara) de achar aqui no Brasil. Então sugiro que você trabalhe com o algodão mais barato que encontrar na sua loja de tecidos favorita. Eu usei o que é chamado de morim, lona ou pano americano, que é um algodão cru mais grosso usado para fazer testes de modelagem. Ele é vendido em três pesos (fino, médio e grosso) e todos eles deram ótimos resultados. O importante é trabalhar com tecidos naturais.

Como fazer seu buckram em casa

Dessa vez resolvi tentar uma coisinha diferente: ao invés do tutorial em texto, teremos um tutorial em vídeo:

Outros usos para o buckram

Além de ser uma “entretela de época”, o buckram pode ser usado para estabilizar as bordas de tecidos que desfiam muito e para preparar retalhos de tecido que vão para portfólios e livros/cadernos de amostras. O buckram não deixou de ser usado no século 19, então é historicamente plausível usá-lo para estruturas colarinhos masculinos removíveis, assim como os punhos e peitilhos de trajes de gala.

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